domingo, 28 de outubro de 2012

Magia Elemental

Capítulo 1 - Amigo Mago

Por: Patrique Mamedes & Fábio Abreu

Escuro, só havia aquela penumbra que me envolvia. Encostei em uma parede úmida, não tinha certeza de onde estava. Percebi um fraco raio luz que vinha do alto, se infiltrava no ambiente mofado por uma fresta no telhado e entregava a localização de uma grande porta de madeira, trabalhada com símbolos religiosos, há alguns passos de onde eu estava. Ouvi algo bater fortemente contra ela tentando derrubá-la. Meu coração acelerou: pressentia o perigo.

Senti os pelos da minha nuca se eriçarem. Não era só o perigo que me rondava há dias, o maior mal que Silmérya conhecia tentava lançar um de seus tentáculos sobre a minha alma. Não podia permitir.

Alzvör era um temido e lendário mago que havia sido exilado em uma distante ilha cercada por barreiras místicas conjuradas pelos maiores magos da ordem dos Darllianos. Darllius fora o maior mago que já existiu e o principal responsável pela prisão de Alzvör, e por tal façanha sua vida fora totalmente consumida, morrendo poucos anos depois.

Estava muito próximo, sentia a forte vibração de cada impacto que a porta sofria e sabia que a qualquer momento seria alcançado.

Que besta me persegue? Minha mente fraca e confusa não parava de imaginar um dos servos de Alzvör passando por ela a qualquer momento. O que faria?


Subitamente uma voz veio aos meus ouvidos como se fosse sussurrada em minha própria alma.
Veja a luz que vem de dentro de você jovem aprendiz.

De súbito me coloquei de pé e fiquei há cerca de cinco passos da porta. As dobradiças de metal fundido rangiam enquanto a porta era fortemente esmurrada.

Quando ouvi o primeiro estalo dando indícios de que a porta não suportaria mais golpes, pus minha luva mística, com uma gema encantada na parte superior, e fechei meus olhos. Havia ganhado de meu mestre há poucos mais de seis meses, porque todo aprendiz precisava usar uma, pois canalizavam melhor os seus poderes.

A gema, outrora negra quando ainda não havia alcançado o primeiro nível de mago, Luz, agora verde alga, reluziu reagindo ao poder que provinha da minha própria existência. Ouvi mais um baque na porta seguido de outro estalido e concentrei todo poder que me restava erguendo minha mão. Uma esfera de luz mística começou a se formar e crescer em torno de minha luva, os vários tons de verde dançavam em torno dela.

Mais um baque. Um buraco surgiu na porta, eu não tinha tempo.

Conjurei o primeiro feitiço que me veio à cabeça quando a porta estourou em pedaços e um ser com mais de dois metros de altura passou por ela em minha direção segurando um tipo de lança nas mãos e rugindo.

Kortáriah!

Não vi mais nada. Naquele momento eu desmaiei...

*****

Ouvia barulho de folhagem e também de correntes se arrastando pelo chão. Meu corpo subia e descia, como se enfrentasse uma forte maré e o clima estava úmido e amargurado.

Novamente, perdi os sentidos.

Algum tempo depois acordei, senti minha respiração ofegante e forçada, por causa do cansaço e do desgaste pelos últimos acontecimentos.

Com certo esforço abri meus olhos e me deparei em meio a uma floresta negra. De longe avistava dezenas de olhos brilhantes se destacando na escuridão da noite. Mesmo a fraca luz do luar foi suficiente para me fazer entender o que ocorria.

Eu estava sobre os ombros de um Malloth, uma espécie maligna de ogro. Possuíam força descomunal, que os possibilitava  suportar viagens por qualquer terreno, e uma inteligência mediana e por isso eram as sentinelas preferidas do mago das trevas, Alzvör. Existiam até algumas raças, que possuíam uma couraça reptiliana resistente a muitos feitiços. O fato de este possuir correntes pelo corpo era sinal que fora em algum momento do passado mantido em cárcere.

Ele me conduzia sobre os ombros em meio a uma íngreme subida, quando percebi onde estávamos, era a floresta de Únar. Este era um dos acessos à Ilha de Andave, onde se encontrava exilado, Alzvör, sob várias barreiras místicas. Mas a pergunta era: Como ele conseguira lançar um feitiço de controle no ogro de dentro da Ilha de Andave, que continha os maiores e mais poderosos encantos já conjurados de toda terra de Silmérya? E porque estava me levando para lá? Minha mente trabalhava incessantemente para chegar a uma resposta sem sucesso.

O mau cheiro do Malloth fazia minhas narinas arderem, mas não seria por muito tempo.

Meu feitiço havia falhado na velha construção e nem mesmo sabia o porquê, mas desta vez eu não erraria. Olhei minhas mãos amarradas e a esquerda estava vazia. Ao que parecia, o Malloth era mais inteligente do que aparentava. Procurei com mais calma tentando não respirar muito fundo, pois o mal cheiro me deixava nauseado, e vi minha luva presa a cintura dele.

Passávamos por árvores mais altas e notei que nos aproximávamos da beira de um penhasco e a ilha já entrava em meu campo de visão. Me sacudi em silêncio para que não soubesse que estava acordado e consegui escorregar um pouco mais para baixo, estiquei meus braços e mesmo com as mãos amarradas facilmente alcancei minha luva, com certa dificuldade coloquei em minha mão. O Malloth se virou tentando olhar para meu rosto, este foi o seu maior erro.

Axcellius!

Minha magia de luz extrema provocou um enorme clarão que direcionei exatamente para os olhos do ogro, ele rugiu ao me lançar no chão. Esfregava os olhos emitindo um forte urro, cambaleante soltei as amarras das minhas mãos. Quando me levantei estava próximo à raiz de uma árvore enorme e o vento que soprou forte às minhas costas indicava que um passo atrás estava o penhasco, olhei de esguelha só para confirmar minha suspeita.

O Malloth começava a restabelecer sua visão e sacou um tipo de machado em meia lua e rugindo feito uma fera foi em minha direção, por pouco não me acerta a cabeça com a pesada arma que ficou presa na raiz da árvore que acertou. Concentrei todo meu poder e minha luva vibrou reagindo à quantidade de magia que a envolvia: desta vez não erraria. Quando o ogro ergueu seu machado novamente, era tarde para ele.

Kortáriah!

A esfera de luz esverdeada voou faiscante em direção ao ogro, que não teve tempo para reagir, foi atingido no peito voando pelos ares penhasco abaixo. Estava salvo por enquanto. Caminhei sem rumo apesar de saber onde estava, pois não dominava os caminhos da grande floresta de Únar e a escuridão só aumentava. O caminho de volta apesar de oscilar em descidas e lugares planos continha lá seus perigos, como plantas venenosas, insetos peçonhentos e grandes crateras entre as árvores. O silencio era absoluto e perturbador, só ouvia os barulhos de meus pés hora pisando em folhas secas outra quebrando pequenos galhos no chão acidentado.

Quando há certa altura de minha fuga da floresta ouvi uma invocação parecida com Axcellius e um grande clarão varreu toda a escuridão de onde eu estava. Meus olhos cegaram momentaneamente, tamanha intensidade de luz. Já me preparava para o pior, um possível ataque, afinal minha captura estava em alta naquele dia.

Tendo certeza que estava com minha luva, minha única saída seria um bom feitiço, não conseguia pensar em nada, pois qualquer passo em falso, poderia ser meu último.

– Quem está aí? Identifique-se!

Não obtive resposta, agucei minha audição ao máximo colocando em prática o treinamento de defesa que tive no Castelo das Três Torres, mas não conseguia ouvir nada. Quem lançou o feitiço ou não se movia, ou o fazia em uma velocidade absurdamente rápida, que burlava a minha audição. Ainda com os olhos fechados, e em posição de ataque comecei a dar voltas em meu eixo vagarosamente, a procura de um som que acusasse a localização de seja lá quem estivesse ali à espreita.

Quando por um instante senti uma presença ao meu lado, me virei e tentei abrir os olhos que ainda estavam sensíveis, então invoquei meu melhor feitiço.
 
Kortá...  antes que pudesse terminar ele colocou uma mão sobre minha cabeça e disse baixinho em meus ouvidos.

– Isso não funcionará em mim! Se acalme ou do contrário não sei se você terá muita sorte se eu invocar um sortilégio assim tão próximo.

A voz masculina me desafiava, mas não podia fazer muito, estava fraco e em desvantagem. Mantendo a posição, então novamente perguntei.

– Quem é você?

– Eu sou aprendiz do grande mago dos Lagos do Sul – disse uma voz aveludada, como se estivesse sendo forçada. – continuou – Não vou machucá-lo, apenas vim conferir o grande clarão verde que vi agora pouco. – me virei me desvencilhando de sua mão incrédulo.

– Mas você não é um mago! Você é um aprendiz e me enganou! – soltei indignado. Ele respondeu coçando a cabeça, meio desconcertado pela cena que fez.

– Eu sei, mas isso não quer dizer que eu não seja um mago. Usei a técnica de reconhecimento de mago aprendiz e encontrei vestígios de sua magia, acho que afinal funciona. – comentou sorrindo. – Sou da academia da Ordem dos Darllianos estou no Elemento Cristal. Você deve estar no Elemento Vento de alguma ordem, este feitiço que estava prestes a lançar é para poucos.

– Vento? Sempre tive facilidade para lançar este feitiço, sou da mesma ordem que você, mas estou no Elemento Luz , deve ser por isso que não te reconheci, ainda não nos apresentamos

Logo respondi com certo orgulho. Parecia estar tirando um fardo das costas, não estava mais sozinho naquela grande floresta, e acabava de conhecer um aprendiz da mesma ordem.

– Meu nome é Alliän. Segundo aprendiz de Dammus, do elemento luz. Mago da ordem dos Darllianos. – concluí com um sorriso confiante nos lábios.

– Olá! Me chamo Kóren, também sou da ordem dos Darllianos. Mas meu mestre é o mago dos lagos sul, Victorius. 

Então esse aprendiz é do sul, mas uma pergunta ainda estava sem resposta.

– Me diga Kóren, porque esta tão longe de sua casa? O que faz nas terras do oeste?

– Vim numa missão de reconhecimento a pedido de meu mestre. - respondeu ele coçando sua mão. – Reparei neste momento que a pedra em sua luva era arroxeada, confirmando seu elemento e nível dentro da magia.

– E pode me dizer o que procurava nesta região? É um dos locais de acesso a Ilha Andave. Não é muito seguro ou sensato viajar por estas terras, ainda mais só. – senti o semblante dele ficar tenso, era algo importante.

– Me perdoe, mas não estou autorizado a dizer mais sobre minha missão. E você o que faz aqui? Não é uma floresta para se passear como você mesmo disse, não é? – ele me questionou. Não tinha porque mentir e nem guardar segredo.

– Um vilarejo onde negociava ervas com comerciantes foi atacado por um grupo de sete Malloths, eu fugi, mas fui seguido por um deles, o maior, na verdade. – percebi o completo espanto de Kóren ao ouvir o nome "Malloth", então continuei. – Batalhei com ele em uma ruína próxima ao vilarejo, mas já havia exaurido meus poderes e fui capturado e trazido a este lugar. Não me pergunte por quê. Não saberei responder. Quando chegou eu havia acabado de derrotá-lo com o "Kortáriah".

Só a menção desse feitiço minha luva reagia, sempre tive muita afinidade com ele, mesmo sendo de um nível muito maior do que estou hoje.

Kóren permaneceu com o semblante pesado e pensativo. Seus olhos miravam o nada e permaneceu em silêncio, caminhei em direção à trilha que havia feito para aquele lugar sobre o ombro do Malloth, para identificar o caminho de volta.

– Alliän... – disse ele, parei e vi que me olhava sério. – Não era para lhe contar isso, mas devido às circunstâncias... Eu vim atrás do primeiro aprendiz do meu mestre. Meu irmão mais velho, Klaut.

Então era este o segredo dele. Pensei analisando cada palavra que me dizia.

– Entendo... Mas acho melhor sairmos daqui antes que sejamos devorados por uma fera neste lugar. – Ele assentiu com a cabeça e seguimos para fora da floresta.

Quase duas horas depois estávamos fora da floresta, mas ainda assim muito longe do castelo Três Torres e a noite chegava sombria e fria.

– Onde fica o castelo de seu mestre?

– Há quase meio dia de viagem daqui. Se começarmos a andar agora e rápido, chegamos antes do amanhecer.

– Andar? – Perguntou ele irônico.

O olhei interrogativo, o que queria dizer com aquele comentário? Ele vestiu sua luva novamente, não tinha percebido que havia retirado ela. A minha permanecia firme em minha mão esquerda, caso o Malloth retornasse. O olhei de esguelha duvidoso sobre o que faria, afinal ele estava dois elementos místicos à minha frente. Ele ergueu-a no ar e sussurrou calmamente.

Levitus!

A luva se iluminou e galhos próximos começaram a se contorcer e estalar. Dei um passo para trás. Os galhos foram se unindo, se entrelaçando sob meus olhos assustados. Se não tivesse visto acontecer, não acreditaria naquela cena. Os galhos mais próximos se uniram e formaram um tipo de dragão de galhos e raízes.

– Vamos, suba! – convidou Kóren sorrindo ao saltar sobre aquele estranho emaranhado de galhos que se movia como um animal vivo.

Era maravilhoso, voar por entre as nuvens, em meio a euforia e êxtase de estar sobre os vilarejos e rios, me sentia também apreensivo, afinal se eu caísse seria fatal. Senti inveja por alguns instantes de Kóren. Nem imaginava o que era ter aquele poder, realmente útil. Perguntava a mim mesmo quanto teria que treinar para chegar a este nível e dominar tais sortilégios.

A distancia entre nós e Três Torres diminuía rapidamente. O tempo que eu gastaria para chegar viajando pelo chão era suficiente para dar quatro ou cinco viagens sobrevoando. Kóren também se divertia me contando histórias mirabolantes de suas jornadas e a todo instante me fazia alguma pergunta referente ao ponto de onde sobrevoávamos. Porém, em certo ponto da viagem ele se cansou um pouco e passou a vez ou outra olhar sua luva. O desgaste por manter aquela magia o estava consumindo.

O dragão rangia e estalava ao movimentar suas enormes asas formadas por cipós, galhos e milhares de folhas. Quando comecei a lhe contar a história do meu mestre já era possível avistar as maiores torres do castelo em seu tom ocre e terracota, era único perante a paisagem esverdeada que o rodeava.

Havia lindos jardins e um belo lago azul em seu entorno. O castelo possuía três torres principais, na do meio ficava meu mestre, o mago Dammus, na torre da esquerda ficava seu segundo discípulo, Elenie, a maga elemento fogo, uma garota jovem de beleza rara e temperamento explosivo, que domina com facilidade todos os sortilégios do fogo como ninguém, mais pecava pela impulsividade em alguns momentos.

Fui o escolhido para a torre da direita, meu mestre através de sua intuição me nomeou o seu terceiro discípulo e me ensinava arduamente e diariamente seu conhecimento. Ele não possuía um primeiro discípulo, mas não era uma história para ser contada naquele momento. Juntos defendíamos o castelo e todos os que moravam no seu interior, desde comerciantes a mulheres e crianças.

Quando nos aproximávamos da entrada percebi que algo estava errado, uma movimentação incomum denunciava que o pior já tinha acontecido. Kóren acenou me questionando se aquele era o local, confirmei com um aceno rápido de cabeça e descemos. Logo o comerciante mais antigo da cidade veio me encontrar. Ele estava pálido e quase sem fala.

– Jovem mestre Alliän, algo está errado, algo está muito errado! Ouvimos esta noite um forte estrondo na grande torre de nosso Senhor e desde então ele ainda não desceu de lá, sua guarda não responde aos nossos chamados e portão principal do pátio esta trancado por dentro. Por magia. – sussurrou ele temeroso só de pronunciar aquelas palavras. – Temo pelo pior jovem mestre.
 
– Como assim senhor Maldoc? Estrondo? Do que o senhor esta falando? E Elenie? – perguntei com receio da resposta. Ele apenas sacudiu a cabeça em negativa.

– Luzes, gritos e invocações, jovem mago, e vinham de lá! – por fim apontou Maldoc para a torre de meu mestre e senhor, Dammus.

– Não se preocupe irei verificar. Toque de recolher, todos para suas casas! – ordenei, tomando minha primeira decisão. Já estava confuso o suficiente por Elenie não ter vindo me recepcionar, sempre fomos muito ligados e não era possível que ela não tivesse visto o dragão se aproximar.

Olhei para Kóren. Ele  entendera de logo e subimos novamente em sua invocação. Só paramos no topo da torre, equipados com nossas luvas. Olhei de esguelha e não havia nenhuma sentinela por perto ou nos postos de observação. Adentramos o ambiente principal da grande torre: a sala que antecedia o quarto estava um caos, e o próprio rol onde aterrissamos tinha marcas de destruição, algo grande havia acontecido ali e pelas mãos de um mago.

Entrei gelidamente pela sala, rumo ao dormitório enquanto fazia invocações de reconhecimento para ver se sentia a áurea do meu mestre, mas minhas tentativas não obtiveram sucesso, ele não estava em lugar algum.

Comecei a me desesperar, procurei por marcas que denunciassem claramente o que aconteceu e nada.  Kóren revirava com a minha permissão todas as gavetas e armários e a cada passo ele se surpreendia com os equipamentos de meu mestre, descobria que não se tratava de qualquer mestre, e sim de um dos sete magos mais poderosos de toda Silmérya.

– Kóren eu não o encontro, eu não o sinto, algo esta errado! Por que não consigo sentir nem mesmo Elenie, em um raio de uma légua e sequer uma carta está escrita, para eu entender?

Kóren disparadamente era mais experiente que eu, e logo me iluminou os pensamentos:

– Será que ele não o deixou uma invocação em anagrama? É assim que meu mestre faz, quando precisa me relatar alguma mensagem, e não nos encontramos.

Era isso. Kóren possivelmente estava correto, mas, invocações em anagrama, só se desvendavam com a pronúncia de uma senha encantada. Eu procurei em minha mente e não a encontrei, murmurei punhados de palavras e nada. Então, me lembrei da primeira palavra de sortilégio que ele me disse quando me viu treinando no lago próximo ao castelo. Eu, na ocasião, não conseguia gerar luz com minha luva. e aquele era o elemento que eu almejava, o primeiro na ordem dos magos. Ele me ensinou que a magia era a água, mas eu era o canal. Que deixasse então fluir. Fechei meus olhos e a luz me veio.

Electi! – Sussurrei.

A luz da única vela acessa de todo o ambiente que nos encontrávamos se desprendeu da vela, veio a mim, a meia altura, se dividiu em inúmeros pontinhos e na escuridão deram formas as palavras.

“Os três magos negros do Leste. Até mim. Segredo. Procure por Elenie, eu a enviei ao reino amigo. Juntos derrotem Alzvör. Faça alianças. Capturado. Alliän, com uma 'Alma' pura terás um 'Coração' forte e uma 'Mente' que transcenderá as maiores barreiras”.

Tudo se apagou, e com a escuridão surgiam minhas dúvidas, afinal onde ele estava? Que segredo era aquele? Do que se tratava a tal aliança? E o que ele quis dizer com: “Com uma Alma pura terás um coração forte e uma mente que transcenderá as maiores barreiras”?

A noite veio sobre o Castelo Três Torres e junto com ela um enorme sentimento de vazio me invadiu o coração. E acredito que sobre todos os habitantes de nossas terras. Várias sentinelas mortos e outros desaparecidos. Os que restaram não se lembravam de nada da noite anterior e estavam muito feridos. Meu mestre havia sido capturado, e eu não sabia por quem. Elenie estava desaparecida, talvez tenha sucumbido diante desse inimigo que a mim permanecia oculto. E este anagrama confuso é tudo que possuía para me guiar nesta jornada cega por uma resposta.

Com uma Alma pura terás um Coração forte e uma Mente que transcenderá as maiores barreiras. Eu repetia em minha mente em silêncio aquelas palavras a fim de entendê-las, mas sem sucesso.

O ar da noite gélido entrava pela janela da torre norte, e o céu calmo e estrelado transmitia uma falsa paz que não condizia com a realidade de Três Torres. Kóren descansava em um dos dormitórios da torre norte, não o conhecia, mas ele me ajudou quando precisei, e até saber o que se passa o ter por perto pode ajudar muito. A noite já estava avançada e resolvi me deitar, não ia adiantar ficar acordado com as corujas da noite sem nada poder fazer, mas o sono se acovardou diante do turbilhão de pensamentos que invadiam minha mente. Depois de muito resistir, o cansaço falou mais alto e adormeci.

Eu tive um sonho.

Corria pela Floresta das Rosas Azuis, precisava encontrar alguém que estava em perigo, ia em direção à Rocha do Céu, uma elevação rochosa alta e com túneis. Ouvi barulhos na floresta e me apressei para chegar à rocha.

Vi entre as árvores vultos negros se moverem de modo desengonçado. Já avistava a rocha quando ouvi um rugido vindo da floresta atrás de mim, usei meu último folego para alcançar a base da rocha e ainda podia ouvir os passos pesados atrás de mim, olhei para cima e vi uma pessoa, não sabia quem era. Ela quem fosse, batalhava contra um tipo de fera.

Subi a Rocha do Céu o mais rápido que pude. Chegando próximo da batalha vi que se tratava de um mago, e a fera era um melinóide, os cães dos Malloths. O mago de costas para mim ergueu sua luva com um belo rubi polido e brilhante e invocou com maestria um sortilégio que eu conhecia.

FLOGUIUS!

O melinóide saltou no ar rugindo, mas foi atingido pelas chamas invocadas pelo feitiço e caiu sobre o mago. Senti meu coração acelerar e corri para ajudar. Ao me aproximar chamas escarlates irromperam de onde ele estava e tive que recuar. Com dificuldade devido ao calor das chamas vi o melinóide ser lançado longe e o mago se levantar. Seus cabelos vermelhos estavam voando no ar, envoltos em chamas.

Quando se virou para mim meu coração parou.

— Elenie?

Acordei suando e já era dia. Kóren estava sentado em minha janela.

Ia perguntar como ele havia chegado ali já que a porta estava trancada, mas ao me lembrar do dragão de galhos, seria um tolo se o questionasse.

— Bom dia! Sei que é precipitado perguntar isso, mas... O que pretende fazer? — Kóren parecia preocupado, sua voz estava tensa.

— Tenho um plano, mas preciso de sua ajuda. — respondi decidido.

Depois de pegar provisões, dei ordem aos anciãos e guardas de Três Torres e parti com Kóren rumo à Floresta das Rosas Azuis sem delongas. Sobrevoamos boa parte do caminho e quando notei cansaço em Kóren, decidi que o melhor era seguir pelo chão. Já estávamos a meio caminho quando ele quebrou o silêncio.

— Alliän, o que estamos fazendo aqui e para onde estamos indo?

Não tinha certeza do que fazia, mas era a única luz que conseguia ver até aquele momento e contei a ele sobre o sonho.

— Estamos seguindo apenas sua intuição? — Kóren ralhou.

— Sei que não é muito, mas vamos seguir este plano por enquanto.

Ele assentiu com a cabeça e continuou correndo. Logo as rosas azuis apareceram pelo caminho, belas e únicas. Somente naquela floresta eram vistas.

Quando avistei a Rocha do Céu meu coração acelerou. Apressei meus passos deixando Kóren para trás. Ele me alcançaria assim que possível. Cheguei à base da rocha, e subitamente uma enorme esfera de chamas veio em minha direção. Não tive tempo para reagir, fechei meus olhos e ouvi o som do impacto e vapor virem até mim.

Abri meus olhos devagar e então fiquei atordoado com o que vi. Era uma parede de cristal perfeita que havia sido conjurada a minha frente para conter as chamas, atrás de mim estava Kóren, ofegante com sua luva ainda reluzindo vestígios de seu maior feitiço.

— Quem é ela? — Questionou ele me indicando a pessoa depois da parede. E não pude acreditar.

Seus cabelos negros voavam como que levados por um vento que não existia, seus olhos estavam tão vermelhos como o sangue e faiscavam. Confuso, não pude acreditar no que via. Minha mente me pregava uma peça? Eu estava vendo uma...

— Elfa?!

2 comentários:

  1. Curti muito este primeiro capitulo
    confesso que o segundo ttambem rsrs
    quando o mesmo sera postado aqui
    para o dominio publico?

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    1. Em menos de 7 dias. rs Obrigado pelo apoio Will. Sempre...

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